Alone in the Dark da Pieces Interactive é uma ousada incursão para ressuscitar a lendária série considerada como “pai do survival-horror” e trazê-la de volta ao centro das atenções. Este lançamento transita habilmente entre de reboot e remake, mas a grande questão permanece: ele consegue honrar plenamente o legado desta icônica franquia?
A modernização de uma história clássica
As ideias por trás da história deste novo título fundamentam-se bastante no original de 1992, trazendo e revitalizando os personagens, ambientes e história do clássico. Neste novo Alone in the Dark, somos introduzidos a uma nova versão de Edward Carnby, um detetive particular, e à cliente Emily Hartwood, ambos em busca de Jeremy Hartwood, tio de Emily.
O início dessa busca acontece porque Emily recebe uma carta do seu tio, que está internado numa espécie de hospital psiquiátrico localizado numa mansão conhecida como Decerto, situada no estado de Louisiana, nos Estados Unidos. Mansão esta que funcionará como palco principal da nossa trama e portal para diversos outros palcos secundários pelos quais a narrativa se desenrolará.
Nossa aventura começa com uma decisão importante, com que personagem jogaremos: Edward Carnby ou Emily Hartwood? Apesar dos personagens transitarem entre os mesmos ambientes, resolverem e enfrentarem os mesmos inimigos, cada um deles tem uma série de cenas completamente diferentes em suas campanhas, além de arquivos de textos únicos e diferentes interações com os personagens.
A história é definitivamente o melhor que Alone in the Dark tem a oferecer, muito se deve ao trabalho desenvolvido por Mikael Hedberg, o escritor aclamado por trás de clássicos de horror moderno como “SOMA” e “Amnesia”, é uma história excelente que deixa o jogador em constante questionamento a respeito dos eventos do jogo, contudo, ela ainda peca por não desenvolver muito bem o elenco secundário que é composto por personalidades interessantes.
A Modernização de uma jogabilidade
Após escolhermos nosso personagem, logo descobriremos que Jeremy Hartwood está desaparecido do Asilo e então dá início à investigação da mansão Decerto. O novo Alone in the Dark se define como um jogo em terceira pessoa, com a câmera por cima do ombro, diferente da perspectiva do original que trabalhava com uma câmera fixa.
A jogabilidade se desenvolve de duas formas: exploração e combate. Durante a exploração, o jogador pode visitar quartos, sótãos, resolver puzzles principais e secundários, pois a mansão guarda inúmeros segredos e investigações paralelas à história principal podem levar o jogador a novas informações sobre essa trama misteriosa. Os puzzles consistem em reunir diferentes pistas para montar algum tipo de quebra-cabeça. Muitas pistas estão no próprio ambiente, como um quadro ou marcas no chão. Em geral, achei todos excelentes.
Os pecados de Alone in the Dark começam em seu combate. O jogo se assemelha muito aos “Resident Evil” modernos nesse aspecto, mas sem entregar a mesma qualidade. Nossos personagens podem correr, se esconder, desviar, mirar e atirar, além de uma série de ataques corpo a corpo utilizando armas brancas espalhadas pelo mapa.
Cada personagem do jogo vem equipado com um arsenal composto por quatro armas distintas, essenciais para enfrentar os inimigos que se assemelham a aberrações humanoides e que não têm nomes definidos. O jogo apresenta uma quantidade limitada de confrontos, variando de encontros tranquilos a desafiadores, devido à jogabilidade, que pode ser desajeitada, especialmente no combate corpo a corpo e ao esquivar, onde a experiência pode ser prejudicada pela confusão causada na câmera durante esses confrontos.
Uma ambientação impressionante
Como já mencionado, a mansão Decerto é o nosso palco principal durante esta investigação e funciona quase como um personagem à parte. Possui sua própria história e desenvolve a nossa através de corredores, passagens secretas, quartos e diferentes tipos de salas com muito a se descobrir.
Ao longo da nossa investigação, vamos descobrir um talismã que pertencia a Jeremy Hartwood e que, de acordo com seu diário, permitia-lhe viajar através de suas próprias memórias. É aí que a Decerto passa a se tornar um portal para uma variedade excepcional de ambientes. Viajaremos através de memórias por templos, ruínas, cidades e muito mais.
Essas mudanças de ambientes acontecem de forma muito sutil. Às vezes, estamos em um quarto da mansão Decerto e, ao sairmos deste quarto, nos vemos em uma nova cidade ou nas ruínas de algum templo antigo. O jogo brinca muito com essa mecânica com o objetivo de nunca deixar o jogador seguro durante a sua investigação.
Por muitos momentos, eu me vi tenso imaginando no que a cozinha da Decerto poderia se transformar, ou até mesmo a sala de leitura que me pôs certa vez em uma cripta infestada de inimigos, mas quando consegui atravessar a porta, estava de volta à mansão. É realmente uma mecânica narrativa e de jogabilidade utilizada com maestria e excelência. No entanto, dado que o jogo oferece campanhas com dois protagonistas distintos, teria sido interessante se cada um deles visitasse locais diferentes durante suas jornadas. Isso poderia adicionar uma camada extra de diversidade e exploração ao enredo.
Por onde anda o terror?
Apesar de uma narrativa e ambientação excelentes, o aspecto mais aterrorizante deste novo título talvez seja o seu combate. No entanto, acredito que essa tenha sido a intenção da Pieces Interactive ao revitalizar o clássico, o objetivo aqui não foi criar sustos repentinos ou recorrer a um terror barato carregado de violência.
Não se engane, o novo Alone in the Dark proporciona uma quantidade significativa de tensão e mantém o jogador constantemente alerta com sua mecânica de mudança de cenário. Além disso, a complexidade da história e a confusão dos personagens também contribuem para a tensão e a angústia que permeiam o enredo, enriquecendo consideravelmente a experiência como um todo.
Vale a pena comprar Alone in the Dark?
É importante manter as expectativas realistas, considerando que a Pieces Interactive é um estúdio pequeno em comparação com gigantes da indústria como Capcom ou Frictional Games. Com isso em mente, acredito que a desenvolvedora entregou um produto de qualidade, oferecendo duas campanhas com 6 horas de duração (totalizando 12 horas) que, apesar de estruturalmente similar, apresenta cenas e arquivos diferentes que enriquecem a história. Apesar das falhas no combate, que não são tão frequentes, ele sustenta a experiência. Portanto, acredito que, em uma promoção, Alone in the Dark vale muito a pena.