O verdadeiro sentido da música para Bob Marley
Bob Marley: One Love mostra qual deve ser o real sentido da música como expressão de arte, de uma forma emocionante e que homenageia todo o legado e trajetória de uma dos maiores musicistas que já pisou no planeta terra, e considera o maior símbolo do Reggae no mundo inteiro, Bob Marley.
Mas antes de falar propriamente do filme, vai aqui um breve resumo de quem foi Bob Marley e o motivo de mesmo depois de 40 anos de sua morte ele ainda é tido como um ídolo da música internacional:
Bob Marley, nasceu na Jamaica em 1945, foi um cantor, compositor e músico que se tornou um dos maiores ícones da música do século XX. Sua música, que combinava elementos de reggae, ska e rocksteady com letras poderosas sobre paz, amor, justiça social e a luta contra a opressão, o catapultou para o cenário internacional e contribuiu para a popularização do reggae e da cultura rastafári em todo o mundo.
Algumas de suas músicas mais famosas, como “No Woman, No Cry”, “One Love”, “Redemption Song”, “Get Up, Stand Up” e “I Shot the Sheriff”, continuam a inspirar e emocionar pessoas de todas as idades e origens até hoje. Sua mensagem de paz, amor, justiça social e igualdade racial ainda é necessária e relevante no mundo de hoje.
Marley também foi um ícone cultural que influenciou a moda, a música e a arte em todo o mundo. Sua personalidade carismática e autêntica o conectou com pessoas de todas as classes sociais, tornando-o um símbolo de esperança e resistência.
Embora tenha falecido em 1981, aos 36 anos, devido a um câncer, o legado de Bob Marley permanece vivo através de sua música atemporal e sua mensagem universal. Ele continua a inspirar milhões de pessoas em todo o mundo, consolidando seu lugar como um ícone imortal da música e da luta social.
Outro ponto importante a ressaltar aqui, é explicar o que é a religião rastafari, parte fundamental do filme e da trajetória de Bob Marley:
O Rastafari, ou Rastafarianismo, é uma fé afrocêntrica que surgiu na Jamaica na década de 1930 entre negros descendentes de africanos escravizados. Combinando elementos do judaísmo, cristianismo e tradições africanas, a religião se baseia em:
- Adoração a Jah: Deus supremo, considerado a personificação da força vital e da energia criativa do universo.
- Reverência a Haile Selassie I: Imperador da Etiópia de 1930 a 1974, visto como a reencarnação de Jesus Cristo e a personificação de Jah na Terra.
- Repúdio à “Babilônia”: Símbolo da opressão colonial, do capitalismo e da sociedade materialista ocidental.
- Anseio pela “Sion”: Retorno à África, considerada a terra natal espiritual dos rastafáris e um lugar de paz e justiça.
Seus princípios e práticas incluem:
- Uso de dreadlocks: Simboliza a força interior, a conexão com a ancestralidade africana e a rejeição dos padrões de beleza eurocêntricos.
- Dieta vegetariana: Prioriza alimentos naturais e evita carne vermelha, como forma de purificação física e espiritual.
- Meditação: Através do uso ritual da erva daninha (ganja), busca-se alcançar um estado de consciência elevado e conexão com Jah.
- Leitura da Bíblia: Sagrada escritura, interpretada de acordo com a perspectiva rastafári, com foco em passagens que profetizam a ascensão de um líder negro e a redenção do povo africano.
O Rastafari influenciou a música, a moda e a linguagem, principalmente através do reggae e de artistas como Bob Marley. Promove a igualdade racial, a justiça social e a resistência à opressão, incentivando o retorno à terra natal espiritual e a valorização da cultura africana.
Apesar de gerar controvérsias pelo uso da erva daninha e por algumas interpretações da Bíblia, o Rastafari continua a ser uma fé vibrante e inspiradora para muitos, oferecendo uma alternativa espiritual e cultural que valoriza a identidade africana, a justiça social e a busca pela redenção.
A música em prol de um bem maior
Bom, começamos o filme em 1976, em meio a um dos períodos mais conturbados da Jamaica, onde pessoas eram mortas todos os dias na ruas e uma luta politica dividia o país, uma verdadeira zona de guerra. Em meio a isso tudo vemos Bob Marley, que nesta época já era o maior ídolo que a Jamaica já teve, e que pregando a paz, o amor e a convivência pacifica entre todos estava fazendo seus shows com o intuito de levar mensagens positivas a Jamaica, entretanto, como ele era um ídolo em toda a Jamaica, é natural que ele poderia interferir para alguns dos lados relacionados a guerra civil do país, mesmo que seu objetivo em momento algum é misturar a política com sua arte.
Com isso, após atestados a vida dele e de seus companheiros de banda, Bob resolve ir para Londres gravar seu próximo disco, que para ele deveria impactar o mundo todo e levar a palavra de JAH a todos. Então assim começamos a acompanhar a produção do disco que futuramente seria o lendário “EXODUS”.
Durante essas cenas de produção do disco em estúdio, nos conectamos e conhecemos mais sobre Bob e todos os The Wailers, banda que era a “Familia” de Bob. Vendo como era o processo criativo deles, a importância da sonoridade, da “energia” da música e principalmente qual seria a mensagem passada através daquelas músicas. E posteriormente vemos os shows da turnê do Disco, e aos poucos como Bob lidou com a descoberta do Câncer.
A música como meio de PAZ
Durante o filme, vemos a ligação forte que Bob Marley tinha com a música e a sua FORÇA de transformar o mundo, com mensagens poderosas em suas letras. E sobre isso duas frases me marcaram bastante em quanto assistia ao filme, uma delas é quando questionado do porque Bob ainda fazia shows sabendo que qualquer um na Jamaica pode ter uma metralhadora e em seguida é dito “Suas músicas são suas metralhadoras”, mostrando que letras e mensagens fortes podem ter o mesmo poder de uma arma de fogo.
E a outra frase vem quando Bob explica o que a música é para ele, ” A música é um meio, o Reggae é uma ponte até a Paz”, o que tem um significado muito forte, pois uma coisa é fato, as melodias podem até ser importantes para a composição de músicas, mas uma mensagem importante torna a música lendária, exemplo disso são o próprio Bob Marley, Metallica, Beatles etc… todos eles, mesmo que fizessem música na parte sonora, também faziam músicas que batessem no sentimento e criasse assim um sentimento forte ao ouvir essas canções.
E no filme esse é um ponto que o diretor trouxe de forma magistral, pois a todo tempo ele deixa claro que Bob não queria ser um super astro e sim transmitir boas palavras e a paz através da sua arte e sua música.
Uma Cinebiografia Digna
As cinebiografias estão em alta, principalmente entre artistas do meio musical, recentemente dois grandes exemplo foram “Bohemian Rhapsody” que trazia a história do lendário Freddie Mercury e do Queen, e “Rocketman” que mostrava os altos e baixos da carreira de Elton John, entretanto, a diferença desses filmes em relação a One Love é que diferente desses outros que focam muito nos astro principais e de como foi a vida deles, desde o começo até a ascensão e o estrelato, aqui vemos Bob Marley já em um estágio na carreira e o filme foca muito mais no seu pensamento e de como o artista via a sua carreira musical e qual era seu propósito nisso tudo, muito diferente dos outros que viam o sucesso como rock, sexo e drogas, Bob via o seu sucesso como algo mais social ajudando o mundo como um todo com a sua música.
E isso é um ponto extremamente positivo do filme, pois ao mesmo tempo que conta a história do artista, mostra como era sua visão de mundo, e não tenta romantizar o artista, como por exemplo fizeram com Freddie Mercury, onde mostraram no filme “só” sua parte boas e não mostraram seus “podres”, que sabemos que eram muitos, aqui mostram sim seus lados mais questionáveis como a relação com sua mulher Rita Marley, e a relação com seus filhos, que mesmo que boa ficaram anos separados. Então como uma cinebiografia ele tem todas êxito, até em partes que visam desconstruir visão, muitas vezes preconceituosas, que muitos devem ter em torno do artista, principalmente em relação ao uso de ervas, que aqui é dito e explicado que a relação de Bob e os demais com esse tipo de substância não é nada ligado a vícios ou descontrole, e sim a sua religião que via o uso dessas ervas daninhas como algo sagrado. Confira uma breve explicação sobre isso:
A ligação dos rastafaris com a erva daninha, também conhecida como maconha, é complexa e multifacetada, com raízes religiosas, culturais e históricas.
Na religião Rastafari:
- A maconha é considerada sagrada e vista como um presente de Jah, o Deus supremo.
- Seu uso ritual é visto como um caminho para alcançar um estado de consciência elevado, facilitando a conexão com Jah e a meditação.
- A erva é utilizada em cerimônias religiosas, momentos de oração e reflexão individual.
- Os rastafaris acreditam que a ganja possui propriedades medicinais e curativas, sendo utilizada para tratar diversas doenças.
Simbolismo cultural:
- A maconha representa a resistência à opressão e à “Babilônia“, símbolo do sistema colonialista e capitalista.
- Fumar a erva é visto como um ato de rebeldia e afirmação da identidade rastafari.
- Os dreadlocks, símbolo da fé rastafari, são frequentemente associados ao uso da maconha.
Contexto histórico:
- O uso da cannabis na Jamaica, país de origem do Rastafari, tem raízes que remontam à época da escravidão.
- Os escravos africanos utilizavam a erva para fins medicinais e religiosos.
- A maconha era vista como uma alternativa à bebida alcoólica, proibida pelos senhores de engenho.
Vale a pena assistir Bob Marley: One Love?
Bob Marley: One Love é um filme absolutamente bem feito, com uma mensagem poderosa para o mundo atualmente, e que vai muito além do superficial ao homenagear um artista e mostra como era sua ideologia e sua propósito dentro do cenário musical.
É uma obra obrigatória para todos que são fãs, e para aqueles que querem conhecer mais sobre Bob Marley, e garanto, vocês vão se surpreender e se emocionar com esse filme que tem tudo para ser um dos melhores do ano.