Imaginário – Brinquedo Diabólico não traz inovação, mas é um bom passatempo para fãs de terror
Por Giovana Defreitas
Se você for novo no mundo dos filmes de terror e mistério, pode se surpreender com “Imaginário – Brinquedo Diabólico”. Se já for fã de carteirinha desse tipo de cinema, vai acabar se enroscando em diversos clichês. O longa, dirigido por Jeff Wadlow e produzido pela Blumhouse em parceria com a Lionsgate, demonstra esforço para trazer novidades às telas, mas fica claro para o espectador que o
desenvolvimento da história se apoiou em muitas referências e estereótipos para se amarrar num ponto central original.
A história traz as protagonistas Jessica e suas enteadas Taylor, de 15 anos, e Alice, a caçula. Ao mudarem-se para a antiga casa onde Jessica havia morado até seus cinco anos de idade, a pequena Alice encontra e se afeiçoa a um ursinho de pelúcia que chama de Chauncey, seu mais novo amigo imaginário. Aos poucos Alice desenvolve uma relação próxima com sua pelúcia, com quem acaba trocando conversas e brincadeiras. Max, o pai das garotas e marido de Jessica, precisa viajar a trabalho, deixando as filhas e a esposa na casa nova. Quando a relação de Alice com o amigo imaginário passa a se tornar algo perigoso, Jessica precisa equilibrar as rebeldias da temperamental adolescente Taylor, a mais nova amizade doentia de Alice, e todo o peso de um passado há muito esquecido que havia vivido naquela casa.
Algumas das referências mais marcantes trazidas pelo filme são “Brinquedo Assassino” (1998), “O Iluminado” (1980), e “Coraline e o Mundo Secreto” (2009). Um brinquedo que se comunica telepaticamente com a criança que recentemente o adquiriu, um portal brilhante, uma criança cujo amigo supostamente imaginário fala através de sua própria voz distorcida, um mundo alternativo com espelhos de pessoas que diferem fisicamente das reais apenas pelos olhos assustadoramente aumentados — todos esses são elementos esgotados de obras que já foram um dia originais, mas ao serem reutilizados hoje só caem na mesmice. Acaba se tornando um tanto maçante ver mais um filme de terror que, durante grande parte de sua duração, utiliza dos mesmos recursos de contação de histórias de thriller que tantos outros já zeraram anteriormente. Até mesmo os jumpscares do filme não trazem nada de novo, mesmo que sejam inseridos de forma inteligente no roteiro — na verdade, as inserções de sustos nas cenas são
inteligentes justamente por terem o mesmo padrão de tantos outros terrores.
Mesmo que muitas ideias se repitam na construção da história central do filme, isso não o torna um filme ruim. Dentre os pontos positivos da produção, é preciso destacar a atuação excelente da atriz mirim Pyper Braun, que com apenas 10 anos entregou uma das atuações mais profundas do longa e provou que tem todo o potencial para se tornar um dos grandes nomes do cinema nos próximos anos. As atrizes DeWanda Wise e Taegen Burns, que representam respectivamente a escritora Jessica e a adolescente em autodescoberta Taylor, também deram um show para as câmeras, construindo ao longo do filme um carinho que pode ser percebido direto da poltrona do cinema. É quase um personagem à parte o
protagonismo feminino na história. Esse tipo de representação no cinema é essencial, e a força que as relações entre as protagonistas, todas mulheres, traz para o desenvolvimento da trama é decisivo.
Não teremos com “Imaginário” um próximo estouro inovativo no mundo do cinema de terror, e muito disso se deve à prepotência no desenvolvimento do plot, mas também estamos longe de lidar com uma decepção. Embora pouco inovativo, o filme traz pontos criativos que o elevam a uma experiência quase agradável.
Com uma história que resgata medos de infância e monstros debaixo da cama, as ideias
originais se misturam aos clichês e entregam ao espectador um filme relativamente fraco, mas que vale a pena assistir pelo menos uma vez.