Silent Hill 2 é um título pelo qual tenho muito carinho. A primeira review, bastante amadora, que escrevi foi sobre este jogo. Na época, eu estava buscando um lugar na internet onde pudesse escrever sobre games com dedicação, e esse lugar acabou sendo a Manual dos Games. É aqui que vou destrinchar o remake de Silent Hill 2.
A saga Silent Hill ficou 12 anos sem um novo lançamento para consoles de mesa. Essa ausência de lançamentos por parte da Konami deixou um grande vazio no coração e na biblioteca dos amantes de jogos de survival horror. Esse vazio, com o passar dos anos, se transformou em uma cobrança por um novo jogo da saga ou, quem sabe, até um remake. Coube então à Bloober Team trazer Silent Hill 2 aos consoles modernos através de um remake. Mas será que eles conseguiram entregar um produto excelente como o original?
Tudo começa com uma carta
A primeira cena começa nos apresentando o protagonista, James Sunderland, que está em um banheiro, encarando suas mãos tremendo e suando frio. Ele está a caminho da cidade de Silent Hill após receber uma carta de sua esposa, Mary. O conteúdo da carta é narrado nos minutos iniciais do jogo: Mary diz a James que ele prometeu levá-la novamente a Silent Hill, mas nunca o fez, concluindo com as palavras: “Estou te esperando em nosso lugar especial”.
Nosso protagonista está cético e em negação em relação à carta e seu conteúdo, já que sua esposa faleceu três anos atrás devido a uma doença. Esses cinco minutos iniciais de Silent Hill 2 são suficientes para capturar nossa atenção e despertar nossa curiosidade: se Mary não pode ter escrito a carta, então quem o fez? Mesmo em negação, o protagonista continua seu caminho em direção à cidade, em busca de Mary e de respostas.
A princípio, a narrativa de Silent Hill 2 se desenrola de forma simples, através de cenas, documentos e diálogos com outros personagens. No entanto, tanto o original quanto o remake vão além disso: sua história é contada não apenas pelas interações, mas também através dos cenários, do design dos inimigos e até do level design. Tudo e cada canto possuem uma razão de existir, fornecendo pistas importantes para aprofundar a compreensão da história. Com os textos e cenas, você apenas arranha a superfície do que essa história de amor e horror tem a oferecer.
No Silent Hill 2 original, a Team Silent enfrentou dificuldades devido à falta de tecnologias avançadas para entregar uma experiência técnica completa, como nas expressões faciais e na dublagem. Já no remake, a Bloober Team contou com tecnologias refinadas que permitiram contar a história nos mínimos detalhes, seja através das expressões faciais dos personagens ou dos diálogos com diferentes entonações. Isso deu ao remake uma nova camada de profundidade que o original não possuía, devido às limitações técnicas da época em que foi lançado.
Além disso, a Bloober Team tomou algumas liberdades criativas para aprofundar ainda mais certos temas relacionados à cidade de Silent Hill e suas histórias. Personagens secundários, como Angela, receberam um arco ainda mais completo, o que enriqueceu a experiência deste título. Em termos de narrativa, acredito que o remake conseguiu entregar tudo aquilo que não foi possível realizar há 23 anos, quando o original foi lançado. A história envelheceu como um bom vinho, e a Bloober Team conseguiu torná-la ainda melhor.
Bem-vindo a Silent hill
Um dos personagens principais da trama é a própria cidade de Silent Hill, com suas ruas largas, becos apertados, lojas e restaurantes. Ela desempenha um papel importante, servindo como um excelente palco para o desenrolar da história. A cidade é pouco hospitaleira: a névoa densa dificulta a visibilidade e a exploração, mas nos recompensa com uma atmosfera que nos mantém constantemente em alerta – sabemos que há algo ao nosso redor, mas não sabemos o quê.
Para auxiliar nessa exploração, o mapa será nosso melhor amigo. Afinal, muitas ruas estão bloqueadas ou simplesmente destruídas, e alguns prédios são completamente inacessíveis. Um ponto interessante a ser mencionado é que o próprio protagonista faz anotações no mapa, indicando portas trancadas, caminhos bloqueados e direções a seguir, o que adiciona um toque de imersão durante a exploração.
Ao seguir as instruções do protagonista, você acabará chegando a um dos prédios principais de Silent Hill 2, como o Bar da Neely ou o Hospital Brookhaven. É interessante observar que, neste remake, para acessar esses ambientes, o jogo não possui nenhum tipo de tela de carregamento; tudo acontece de maneira extremamente fluida, o que reforça ainda mais a imersão ao explorar a cidade. Para avançar em Silent Hill 2, será preciso explorar o ambiente por completo, buscar chaves, resolver quebra-cabeças e, por fim, derrotar o chefe daquele local.
Na parte dos quebra-cabeças, o jogo contém muitos dos quebra-cabeças originais do título, mas a Bloober Team aproveitou para incluir novos desafios que complementam a experiência e estão diretamente ligados à exploração. Encontraremos peças necessárias para a conclusão dos puzzles, documentos com códigos importantes e muito mais para podermos progredir pelas portas fechadas da cidade.
Modernizando a jogabilidade de Silent Hill 2
No Silent Hill 2 original, a Team Silent utilizou as limitações tecnológicas a seu favor para entregar a jogabilidade de Silent Hill, que mantinha os controles conhecidos como “controle de tanque” para movimentar o personagem, além de um combate que podia se tornar mais frustrante do que qualquer outra coisa. Mas tudo isso tinha uma grande justificativa: James Sunderland não é um soldado de guerra ou agente especial, ele é uma pessoa comum, provavelmente um CLT que, no fim do expediente, sai para beber sozinho e chorar pela sua, talvez, falecida esposa.
A Bloober Team tinha um grande desafio pela frente: modernizar a jogabilidade de James sem perder a essência do perigo e sem fornecer recursos em excesso, para que a tensão do combate não fosse eliminada. A primeira mudança foi abandonar a câmera fixa e os controles de tanque, optando por uma abordagem em terceira pessoa, com a câmera posicionada atrás do ombro.
Inicialmente, pensei que um pouco da tensão e atmosfera se perderiam com essa mudança, mas eu estava enganado. A cidade de Silent Hill mantém seus perigos em cada esquina, e, quando estamos em ambientes fechados, como nos edifícios Blue Creek, a câmera se aproxima um pouco mais, tornando o ambiente mais claustrofóbico e consequentemente, o combate mais difícil.
No que diz respeito ao combate, Silent Hill 2 conta com o mesmo arsenal do original. Contudo, James agora tem maior agilidade; atacar com armas brancas é muito fácil com o R2, e ao pressionar L2, podemos puxar rapidamente a arma de fogo equipada anteriormente. Isso facilita a combinação dos dois tipos de armas para derrotar os inimigos no caminho. No entanto, o verdadeiro “game changer” é o botão de esquiva, que é rápido e garante muitos frames de invencibilidade ao personagem. Isso tornaria a experiência mais fácil se os inimigos se comportassem como no jogo original.
No entanto, no remake, o elenco de inimigos está ainda mais letal e resistente, tanto contra armas brancas quanto de fogo. É necessário utilizar o arsenal com eficiência, optando por mirar nas pernas dos inimigos para derrubá-los e em seguida, finalizá-los com armas brancas. As lutas contra os chefes são um espetáculo à parte. A melhoria em relação ao original é clara, com um dinamismo e uma ambientação diferentes, que agregam muito ao remake.
Contudo, há um excesso de tudo aqui. Enquanto no original escolhíamos com cuidado os confrontos para poupar nossos recursos, no remake nos envolvemos em confrontos com frequência, simplesmente porque podemos. A nova jogabilidade de James facilita muito e temos uma grande quantidade de recursos à nossa disposição, principalmente itens de cura, o que nos incentiva a entrar em combate. No entanto, isso pode tornar a experiência um pouco cansativa e repetitiva. Acredito que derrotar os inimigos ou fugir deles já não seja mais uma escolha estratégica, pois temos tudo disponível para eliminá-los com eficiência.
Não se engane, considero todas as mudanças extremamente positivas. No entanto, a frequência do combate acaba trivializando e eliminando uma parte da tensão que deveria existir a cada confronto, tensão essa que é muito forte nas lutas contra chefes, por exemplo. Assim, quando deveríamos nos questionar se gastaríamos ou não recursos para derrotar os inimigos, a questão muda e passa a ser mais focada em quantos inimigos há e quanto tempo levaremos para derrotá-los, afinal, temos todos os recursos possíveis a nossa disposição.
Aspectos técnicos e trilha sonora
Na parte técnica, havia uma preocupação em torno do remake, que foi desenvolvido utilizando a Unreal Engine 5. Essa engine não é exatamente conhecida por sua otimização, apesar de entregar visuais impressionantes. No entanto, a Bloober Team conseguiu oferecer tanto visuais incríveis quanto uma otimização consistente em seus dois modos: Qualidade que inclui Ray Tracing e Perfomance. Os modelos de personagens e as expressões faciais estão excelentes e o Silent Hill 2 apresenta uma iluminação belíssima, aspectos técnicos importantes para garantir uma boa experiência.
A experiência também foi bastante polida, uma vez que não encontrei nenhum tipo de bug em minhas 18 horas de jogo. Isso é impressionante, considerando a engine utilizada. Ao que tudo indica, a Bloober Team foi capaz de dominar a Unreal Engine 5.
Na parte da trilha sonora e do design de áudio em geral, temos também um trabalho impressionante. Os sons durante a caminhada, a abertura de portas e até mesmo os gritos dos inimigos que ocupam os ambientes são de arrepiar. Existe um trabalho executado com maestria que se soma bastante à trilha sonora de Akira Yamaoka, que também foi o compositor do título original. Aqui, ele traz temas como “Promise” rearranjado e “Theme Of Laura”, que são excelentes e o jogo também conta com melodias bastante melancólicas, reforçando a ambientação e a história do jogo.
Outro aspecto técnico importante é a dificuldade. Silent Hill 2 se mantém fiel ao original ao oferecer opções de dificuldade para dois grupos diferentes: combate e puzzles. Assim, o jogador consegue personalizar sua experiência da forma que preferir para lidar com os dois tipos principais de desafios que o jogo oferece.
Dualsense e acessibilidade
Silent Hill 2 foi lançado exclusivamente para PlayStation 5 e PC. Essa parceria permitiu que a Bloober Team focasse em desenvolver alguns aspectos especiais, utilizando as funções do controle do PS5, o DualSense. O uso dessas funções é excelente e impressionante. Na parte de combate, o gatilho do R2 simula o impacto dos golpes corpo a corpo, e, ao atirarmos, funciona como um gatilho de armas, onde precisamos pressioná-lo com mais força para executar os disparos com sucesso.
Já na exploração, dependendo do ambiente, o feedback háptico muda bastante para melhorar a imersão no jogo. Quando chove, por exemplo, o controle vibra à medida que as gotas de chuva atingem o protagonista, o que é impressionante
Na parte de acessibilidade, Silent Hill 2 conta com diversos aspectos positivos, como funções que podem melhorar a experiência em geral. Podemos personalizar desde o tamanho das legendas até a nossa retícula da mira. Além disso, na parte gráfica, existem opções para daltônicos e funções especiais para destacar itens no mapa, garantindo que o jogador não deixe nada para trás.
O número de opções é grande e versátil, garantindo que todos possam experimentar o título, o que é ótimo de maneira geral. Essa é uma característica fundamental dos títulos da PlayStation e que, com certeza, foi um requisito para que o jogo fosse lançado na plataforma, neste acordo com a Konami.
A equipe da Manual dos Games agradece imensamente à Nuuvem por nos fornecer uma cópia de Silent Hill 2 (2024) para esta review.
O Review
Silent Hill 2 (2024)
Silent Hill 2 (2024) é um título marcante, tanto em sua versão original quanto no remake. Este remake da Bloober Team traz uma experiência renovada em todos os aspectos, que com certeza agrega muito na hora de contar a história. A jogabilidade também foi atualizada e diverte, embora o combate seja mais frequente do que deveria.
PRÓS
- Visuais impressionantes
- Jogabilidade modernizada
- Design de áudio excelente
- Boas opções de acessibilidade
CONTRAS
- Frequência de combate elimina tensão
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