Já se passaram quatro anos desde o impactante trailer de revelação de Black Myth: Wukong e finalmente o aguardado título está entre nós. Disponível para PC e PlayStation, o jogo era um dos lançamentos mais esperados do ano, cercado de grandes expectativas. Mas será que ele realmente faz jus ao hype? Vamos descobrir nesta review!
Jornada ao Oeste
Black Myth: Wukong busca em sua história, entregar uma reinterpretação do livro Jornada ao Oeste, amplamente conhecido por abordar uma grande aventura, trazendo elementos únicos de absurdo e profundidade, religião e história, sátira antiburocrática e poesia pura. Essa obra serviu como base para algumas regras fundamentais da “jornada do herói”, tal como a conhecemos hoje e inspirou vários títulos, como Dragon Ball e Enslaved: Odyssey to the West.
Black Myth: Wukong se apoia fortemente nos fundamentos estabelecidos por essa história, desde a ambientação e os elementos artísticos até os personagens e a trama. No início, acompanhamos a queda de Sun Wukong, cuja montanha, onde vive em paz e tranquilidade, é invadida por um grande exército. Esse exército tem o objetivo de recuperar as escrituras que ele protege, além de levá-lo de volta à corte.
Após presenciarmos a queda de Sun Wukong, assumimos o papel de um personagem (esteticamente muito semelhante ao Sun Wukong) chamado “O Descendente”. Traçamos, então, nossa própria “Jornada ao Oeste”, repleta de desafios, poesia e história. A narrativa é contada por meio de belíssimas cinemáticas, diálogos com outros personagens e pelos itens que coletamos ao longo do jogo. Apesar da premissa da história ser interessante, é importante destacar que sua narrativa se inspira fortemente em Dark Souls, deixando muitos detalhes abertos à interpretação do jogador. Isso pode frustrar aqueles que preferem uma narrativa mais clara e direta.
É Soulslike ou não é?
O subgênero “soulslike”, criado justamente pelos desenvolvedores de Dark Souls, tem se popularizado muito nos últimos ano e muitos questionaram se Black Myth: Wukong seria apenas mais um exemplo desse estilo, mas posso afirmar que o título se assemelha muito mais a uma experiência como God of War: Ragnarok do que, de fato, a um Dark Souls ou Elden Ring. Isso indica uma maior ênfase na ação e na aventura, embora ainda mantenha um grande nível de desafio.
Em nossa jornada ao Oeste, o jogador percorrerá um árduo caminho por uma vasta diversidade de ambientes: desde vales montanhosos, florestas densas e desertos hostis até cavernas gigantescas. Áreas estas que são dividas entre seis capítulos. A variedade impressiona e chama a atenção pela qualidade gráfica, além de proporcionar uma verdadeira sensação de aventura.
Apesar de os cenários serem interessantes, o level design carece de maior elaboração, oscilando entre uma linearidade excessiva e áreas mais abertas, porém limitadas por frustrantes paredes invisíveis. Essas barreiras comprometem a imersão e restringem o potencial de exploração que o jogo poderia ter oferecido.
Esses ambientes são também os palcos para as batalhas que o Descendente terá de enfrentar. Black Myth: Wukong dá grande ênfase ao combate, que é justamente onde o jogo mais se destaca. Desde os inimigos normais até sua vasta gama de chefes variados, o jogo se mantém desafiador do início ao fim com o seu combate divertido. Porém, existe uma falta de sensação de impacto nos golpes, por muitas vezes, parece que você está enfrentando uma folha de papel.
No primeiro capítulo, até pensei que o jogo fosse uma espécie de “boss rush”, dada a frequência com que o jogador enfrenta chefes. Contudo, nos capítulos seguintes, o jogo começa a espaçar mais esses confrontos, além de oferecer áreas mais amplas para exploração. Essas áreas são bonitas, recompensadoras e com uma impressionante variedade de chefes, cada um com golpes e formas únicas, mantendo o jogador sempre atento. A combinação desses elementos oferece uma experiência de combate divertido e exploração recompensadora.
Sistemas de progressão e Dificuldade
Apesar de o título lembrar mais God of War do que Dark Souls, é importante destacar que Black Myth: Wukong não possui um seletor de dificuldade. Ou seja, não há meios para facilitar a experiência, que pode ser bastante desafiadora. Não será incomum o jogador ficar preso em algum chefe muito específico, uma vez que os sistemas de progressão são um pouco limitados e sem profundidade.
Na questão da progressão, o jogo incorpora muitos elementos de RPG. À medida que eliminamos inimigos normais e chefes, ganhamos experiência e, consequentemente, subimos de nível. A cada nível, ganhamos um ponto de faísca, que pode ser usado em uma grande árvore de habilidades. E quando digo “grande”, é realmente grande! Cada habilidade pode ser aprimorada de alguma forma, e as magias também podem receber novos efeitos, tanto passivos quanto ativos. Essas magias são desbloqueadas conforme progredimos na história ou derrotamos chefes.
Um dos sistemas mais interessantes do jogo é o de espíritos. Ao derrotarmos alguns dos sub-chefes nas áreas do jogo, temos a oportunidade de capturar seus espíritos e equipá-los. Esses espíritos concedem bônus variados de status e, além disso, permitem que o protagonista se transforme temporariamente no chefe derrotado para realizar um ataque único e devastador. Há uma grande variedade de espíritos, cada um com bônus e utilidades diferentes, o que adiciona um pouco de profundidade estratégica ao gameplay.
Há também os porongos e diversos outros tônicos que podem ser preparadas utilizando os recursos naturais coletados ao longo dos capítulos. Algumas dessas bebidas oferecem bônus temporários de atributos como força, defesa e recuperação de vigor, o que pode ser crucial em batalhas mais desafiadoras. Esses efeitos podem, muitas vezes, fazer a diferença entre a vitória e a derrota nas lutas contra os chefes mais difíceis do jogo.
Por fim, há o sistema de equipamentos, que podem ser criados com materiais coletados ao derrotar inimigos ou comprados. Existe uma ampla variedade de itens que aumentam atributos como defesa e recuperação de vigor, além de fornecerem passivas únicas que funcionam em combinação com habilidades específicas. Com esse conjunto de elementos, conseguimos formar uma leve “build” conforme progredimos em Black Myth: Wukong.
No entanto, é importante destacar que o jogo começa de forma “lenta” nesses aspectos: temos poucas habilidades, poucos espíritos e, consequentemente, pouca variedade em tudo. Contudo, o combate ganha muita profundidade à medida que realizamos os upgrades e começamos a moldar, ainda que parcialmente, o nosso Descendente. Digo “parcialmente” porque, apesar dos elementos de RPG, o resultado final não muda muito. Ainda usaremos as mesmas magias e os mesmos golpes, apenas com pequenas variações.
Perfomance no Playstation 5
Jogamos Black Myth: Wukong no PlayStation 5, versão que por muito tempo permaneceu um mistério, já que os vídeos de jogabilidade divulgados mostravam apenas a versão para PC. Inicialmente, o jogo apresentava um forte serrilhado, mas assim que o motion blur foi desativado, os visuais melhoraram bastante.
O jogo roda em três modos diferentes. No modo Qualidade, ele opera em resolução nativa de 1440p a 30 FPS, com uso intenso de upscaling para alcançar 4K. O modo Equilibrado busca entregar uma resolução de 1080p a cerca de 45 FPS, também utilizando upscaling para chegar a 4K. Por fim, o modo Performance visa atingir 60 FPS em uma resolução de 1080p, mas, conforme observado, o jogo pode cair para 720p em momentos de maior demanda gráfica.
Na minha experiência, jogando no modo Performance, o jogo rodou de maneira visualmente agradável e com uma taxa de quadros por segundo consistente, exceto durante as lutas contra alguns chefes. Em certas batalhas, a performance foi drasticamente afetada, criando input lag nos comandos executados, o que pode tornar essas lutas bastante frustrantes e injustas.
Vale a pena comprar Black Myth: Wukong?
É essencial ajustar as expectativas em relação a Black Myth: Wukong, considerando que este é o primeiro título de grande escala desenvolvido pela Game Science. A meu ver, o jogo cumpre muito do que foi prometido, oferecendo uma experiência repleta de cinemáticas impactantes, visuais deslumbrantes e um combate divertido, capaz de entreter os jogadores por algo entre 30 e 50 horas.
No entanto, para cada ponto positivo, há ressalvas importantes a serem feitas. Embora o jogo execute muito bem o que se espera de um título desse porte, não há nada aqui que seja realmente revolucionário ou que transforme a indústria dos games. É, sem dúvida, um jogo excelente, mas não chega a ser um forte candidato ao “Game of the Year”.
Ciente das ressalvas mencionadas ao longo do texto, eu diria que vale a pena comprar Black Myth: Wukong que apresenta-se como um jogo de ação e aventura com elementos simplificados de RPG, prometendo uma experiência divertida, desafiadora e interessante em vários aspectos. No entanto, o título sofre com problemas de performance, falta de profundidade em alguns de seus sistemas e uma história que deixa muito em aberto para interpretações.
A equipe da Manual dos Games agradece imensamente à Nuuvem por nos fornecer uma cópia de Black Myth: Wukong para esta análise.