Dragon Age: The Veilguard é a conclusão do arco de Solas, iniciado em Dragon Age: Inquisition, após termos a revelação de que o tempo todo ele era um deus élfico conhecido como Dread Wolf (Lobo Temido), que havia se juntado à Inquisição para corrigir os problemas que ele mesmo causou. Mas como todo novo Dragon Age, o jogo não passou isento de polêmicas por ser uma franquia que até hoje sofre por não ter uma identidade bem definida.
Eu apelidei o jogo de Dragon Age 2 2.0, por trazer uma estrutura próxima à aventura de Hawke, e por vezes cometendo os mesmos erros bobos que o segundo jogo da franquia. Veilguard corrige algumas decisões gerais de Inquisition, como o sistema de Poder e da Mesa de Guerra, e o terrível design das fases, que tentavam empurrar um mundo aberto completamente desnecessário.
Que o Lobo Temido te carregue!
Em Dragon Age: The Veilguard você precisa impedir que Solas destrua o Véu, o que separa o mundo dos vivos do Imaterial, que abriga diversos espíritos e demônios que seriam jogados no mundo, causando a destruição do universo do jogo como o conhecemos. É aí que entra Rook, ou Hawke 2.0, que precisa assumir a liderança após Varric se machucar durante os eventos iniciais.
Rook precisa reunir um grupo de pessoas com diferentes especializações para que eles possam bolar um plano contra o Dread Wolf, tudo isso enquanto Solas está dentro da cabeça do protagonista e frequentemente se desentendem em suas conversas. Em relação à Rook e seus companheiros, eles acabam criando uma relação de quase que uma família criada em meio as adversidades (assim como Dragon Age 2).
Porém, a proposta não vem sem problemas, apesar de logo de início você tomar decisões importantes sobre quem é o seu Rook, como a qual facção ele pertence, raça e classe, o que gera uma imensa quantidade de variedades de diálogos ao longo do jogo (e é a melhor implementação desse sistema até hoje na franquia), Rook ainda é muito a sua própria pessoa.
Assim como Hawke, você determina a personalidade de Rook ao longo dos diálogos, selecionando entre a resposta boa, sarcástica ou brincalhona, e estoico. Mas o personagem fala bastante por conta própria, baseado na personalidade em que você foi definindo, e é essencialmente um herói, o que diminui as opções de role-play apresentadas aqui.
A história também sofre de um problema grave de ritmo, com o início do ato 1, após o prólogo, sendo arrastado e muitas vezes até chato. Pegando ritmo somente após a primeira grande decisão do jogo. Os diálogos dessas primeiras 10 horas também são estranhos, e você só vai começar a se apegar aos companheiros depois dessa primeira etapa.
Uma excelente missão de história principal virá acompanhada de várias quests secundárias que não são tão interessantes, e as próprias quests dos companheiros também demora para “pegar no tranco”. Isso acaba passando a sensação de que o jogo foi inflado para ter muito mais conteúdo do que deveria, ainda mais que os títulos da BioWare já sofrem normalmente de problemas de ritmo, mas isso é piorado aqui.
Como de costume em Dragon Age, alguns companheiros brilham mais que outros, com os mascotes Manfred e Assan roubando a cena diversas vezes. Apesar das coisas começarem um pouco estranhas na história de cada um deles, os encerramentos de suas quests pessoais são muito bem executados, e no final acabam sendo personagens bem escritos e bem desenvolvidos.
As sequências finais, do fim do segundo ato em diante, são o ápice da narrativa do estúdio até então. Ele mistura elementos de Mass Effect 2 com uma narrativa mais densa, e com diversas variáveis em relação ao conteúdo secundário que você fez, ou deixou de fazer ao longo do jogo. Principalmente em comparação a Dragon Age: Inquisition, que falhou ao entregar um final original muito ruim.
O problema é que, por ser algo praticamente obrigatório para conseguir o “final perfeito”, esse conteúdo secundário precisava de um cuidado para não ficar maçante, e foi o que faltou aqui. Apesar de ter muitas quests simples, a imensa quantidade delas acaba cansando o jogador quando ele já está em 60 horas e acredita ainda não ter o suficiente para o final.
As belezas do norte de Thedas
A direção artística de Dragon Age: The Veilguard é uma das melhores da indústria. Já mencionei anteriormente, mas volto a repetir: eu prefiro gráficos estilizados, que sobreviverão aos desafios do tempo, do que investir em fotorrealismo. Thedas nunca esteve tão bonita, e apesar de reclamarem do excesso de cores e magia, o norte de Thedas não é igual ao sul e isso foi destacado diversas vezes na franquia, principalmente por meio do Codex.
Os cenários são bonitos até mesmo em momentos mais obscuros, e é emocionante ver pela primeira vez lugares que haviam sido apenas descritos no Codex ou por outros personagens, como a Necrópolis de Nevarra e a fortaleza dos Grey Warden, Weisshaupt. A floresta de Arlathan também é um show à parte, com uma das iluminações mais bem feitas recentemente.
No geral, os personagens também estão ótimos, com um pequeno erro em relação à proporcionalidade de alguns. Lucanis parece ter uma cabeça grande demais para o resto do corpo, por exemplo, e eu ainda insisto para que a BioWare retorne para o design dos Qunari apresentados em Dragon Age 2, que também possuía uma arte bem estilizada e angular.
Magos, ladinos e guerreiros
A BioWare tomou uma das decisões mais polêmicas no design desse jogo, e foi se inspirar no título mais divisivo da franquia: Dragon Age 2. Tanto no combate bem menos estratégico dos outros jogos, quanto no sistema de escolha de respostas de Rook, como já mencionado anteriormente.
A parte estratégica do combate fica mais em questão de saber quais habilidades usar para “detonar” os inimigos. Uma habilidade aplica um status, outra habilidade explode esse status, e causa uma detonação no oponente, que explode recebendo bem mais dano que o normal. Elementos também tem um certo aspecto de vantagem, como o clássico gelo tomar dano maior contra fogo, mas não tem tanto peso.
O fato é que, apesar de tudo, Dragon Age: The Veilguard é o primeiro jogo da franquia que não torna a função de passar pelos seguimentos de combate uma tortura. Apesar de ideias boas tentando envolver estratégia em Origins e Inquisition, a execução é péssima e sempre passou a sensação de você estar jogando um MMORPG.
Você realmente sente o impacto durante os ataques em The Veilguard, e ao comprar as skills corretas da árvore, é possível deixar o seu personagem com dano o suficiente para que os inimigos não passem a sensação de serem esponjas de dano. É simplificado, mas é divertido e funcional.
Outro sistema substancial em jogos da BioWare são as escolhas, e Dragon Age: The Veilguard apresenta um bom sistema de escolhas e consequências, que poderia ter sido melhor explorado. Apesar das escolhas de origem e raça realmente abrirem diversas opções de diálogo ao longo do jogo, e o sistema de escolhas brilhar ao trazer algumas surpresas em pontos realmente importantes da história, ele some em momentos menores, que também poderiam trazer ainda mais decisões para o jogo.
As que aparecem realmente tem consequências bem elaboradas e mostram como o estúdio evoluiu nesse aspecto, mas faltou um pouquinho de ambição em relação à quantidade.
Feitiços, explosões e músicas de bardo
A trilha sonora de Dragon Age: The Veilguard teve uma mudança brusca de outros títulos para esse, com Hans Zimmer assumindo o comando das composições. Como sempre, ele entrega um trabalho de altíssima qualidade, mas que é um pouco atrapalhado por um design de áudio estranho. Com exceção de batalhas de chefe realmente importantes, parece que os efeitos sonoros estão sempre em um volume muito superior que a música.
E não me leve a mal, os efeitos de ataques de espada, adaga e até mesmo feitiços são muito bem executados. Todos os efeitos sonoros no geral são muito bons, mas são atrapalhados por uma mixagem de volume estranha.
Guarda do véu e da acessibilidade
Dragon Age: The Veilguard conta com diversas opções de acessibilidade, incluindo poder personalizar a dificuldade do jogo de acordo com suas preferências, incluindo uma opção que desativa até a possibilidade do seu personagem morrer durante o combate. O jogo também conta com opções padrão de acessibilidade para legendas, como cores e tamanhos.
Mas uma das opções que mais me ajudou foi a de ajustar o ponto morto do analógico, até porque os meus dois controles DualSense estão apresentando drift no analógico esquerdo. Com isso, a dor de cabeça que acontece com outros jogos nem aconteceu.
Esta análise foi realizada graças à uma chave disponibilizada pela nuuvem, muito obrigada!
O Review
Dragon Age: The Veilguard
Mesmo com alguns tropeços e decisões polêmicas de design ao se inspirar em Dragon Age 2, Dragon Age: The Veilguard abre o caminho para um retorno triunfal da BioWare, entregando a melhor reta final já escrita pelo estúdio e uma das melhores de toda a indústria. Os erros principais ficam por conta de alguns momentos muito chatos nas primeiras horas e uma quantidade desnecessária de side quests para inchar o jogo.
PRÓS
- Combate simples, mas bem executado e divertido
- Bons personagens
- Final impactante e bem estruturado
CONTRAS
- Começo lento e cansativo
- Poderia ter mais decisões
Dragon Age: The Veilguard OFERTAS
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