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Secretária da Cultura de SP discute planos para incentivar o mercado de games no estado

Tivemos a honra de um convite para conversar com Marília Marton, secretária da cultura do estado de São Paulo, que vem planejando diversos projetos para incentivar o mercado de games no estado. Os planos incluem até mesmo o primeiro Torneio Estudantil de Games, que teve o lançamento durante a gamescom latam e reunirá diversos estudantes em uma competição de Garena Free Fire.

Marton comentou sobre a importância cultural dos jogos, que vem cada vez mais se misturando a outros elementos como filmes, livros e quadrinhos. A gamescom latam contou com um estande da Secretaria da Cultura, e um da Winzo, uma publisher indiana que tem parceria com a instituição estadual. Confira a entrevista na íntegra abaixo:

Eu gostaria de saber mais sobre os projetos da Secretaria da Cultura como, por exemplo, a Fábrica de Games. Vocês querem ajudar os desenvolvedores de jogos com o projeto, quais são as expectativas?

Marília Marton: Então, na verdade a Fábrica de Games não é só o desenvolvimento, a gente gostaria que eles entendessem como esse mercado é amplo. A gente tá falando de um mercado que pode começar de um livro, pode começar de uma HQ, pode começar de um filme e depois virar um jogo. É sobre a multiplicidade do mercado também é uma grande possibilidade, eu acho que a transversalidade da cultura pop, isso adicionado ao audiovisual, possibilita o mercado ao infinito.

Então, a Fábrica de Games é um start de possibilidades. Eu brinco que a gente vai ter lá um ano de trilha de formação, mas a gente pode pensar que daqui a um ano, a gente pode precisar de mais 6 meses, porque precisa desenvolver melhor o roteiro, melhor o desenho gráfico, que é algo que o Brasil ainda tá muito atrás.

Eu fico conversando com a turma de animação, e a dificuldade que se tem de mão-de-obra. A Fábrica de Games é um start de um lugar que a gente quer ser promissor, mas não tem hora de acabar.

O Marco Legal dos Games foi aprovado, quais são as expectativas do estado em relação a outros projetos a nível nacional?

Marília Marton: Eu acho que o Marco Legal traz para o setor uma segurança jurídica, o que é fundamental, não só para o setor mas também para os investidores. Você tem o investimento nacional, e você tem o investimento internacional. Quando o país não tem uma segurança jurídica, isso impede o investidor de ter credibilidade em aportar recursos ali.

Claro, a gente tem os destemidos, que botam dinheiro, até porque é um mercado que não tem fronteira. Então, qualquer problema você bota [o projeto] debaixo do braço no computador, e troca de país. Isso também é uma novidade para todo mundo. Porque, diferente de uma fábrica, que você faz um investimento físico num ambiente, num território, o desenvolvimento de games não tem essa fronteira.

Eu posso tá aqui no Brasil e ser o roteirista, o programador pode ser um cara da Índia, o desenhista pode ser um cara do Japão, e o cara que vai fazer a música é de Los Angeles. Então, a gente não tem essa fronteira. Agora, para o país, enquanto segurar de recurso de fronteiras, porque aí sim faz diferença nas receitas do país, ter um Marco Legal, começar a ter regulamentações.

E o importante que a gente viu aqui, é manter diálogo com o setor. Porque ninguém sabe mais que o setor, do que o próprio setor. O governo ajuda quando ele ouve, ajuda quando abre diálogo. Então o Marco Legal veio, veio para ficar e agora, à partir dele, saem as regulamentações. À partir dele saem as resoluções, à partir dele sai a credibilidade do mercado e à partir dele o governo tem mais possibilidade de investir nos potenciais, e poder ser um polo atrativo de recursos.

E com essas mudanças que virão principalmente por conta do Marco Legal, esse projeto a Fábrica de Games, você acredita no potencial do Brasil de criar jogos para serem grandes lá fora?

Marília Marton: Olha, a gente fez um anúncio agora de manhã com a Winzo, que é uma publicadora da Índia, a maior que tem lá, e eles acabaram de abrir escritório aqui, no estado de São Paulo, e um aporte financeiro de 50 milhões de dólares. Então, a gente tá muito otimista, eu tô muito feliz de estar envolvida nisso desde o primeiro dia, em que eu cheguei secretária.

A primeira vez que eu encontrei a turma dos games foi logo nos primeiros 15 dias em que eu estava na Secretaria, a gente apostou nisso, ano passado a gente teve missão para games, que foi o que resultou nessa grande parceria aqui. A gente tá empolgadíssimo, esse ano a gente vai fazer uma missão de análise da Tokyo Game Show, então a gente só quer crescer.

Quanto mais a gente cresce, mais a gente sabe que o setor se potencializa, se estrutura, porque eu acho que, mais do que o governo, o setor precisa se estruturar, porque governo vai e governo vem, o setor fica. Então, o básico, a estrutura básica do setor precisa ser forte, firme, para que o prédio suba com potência, e podendo segurar a carga. A gente tá muito feliz com tudo isso, é importante, inclusive, falar dessa parceria com a gamescom, porque é à partir dessa parceria, que outros países acabam olhando para o Brasil, e para a gente não existe coisa mais fundamental do que isso.

Secretária da Cultura de SP discute planos para incentivar o mercado de games no estado
Publisher indiana Winzo e secretaria da cultura do estado de SP discutem parceria durante a gamescom latam.

Teria o Brasil como inspiração a Coréia do Sul, que agora começou a ser um grande destaque dentro da indústria de jogos?

Marília Marton: Eu acho que o Brasil tem isso. A gente tá em um momento de entender o mercado, acho que o próprio governo precisava entender o mercado, o Marco Legal é um momento importante para dar essa segurança jurídica. E a partir disso, as linhas de financiamento que a gente possa vir a fazer para poder sustentar o mercado.

Mais do que a gente querer crescer para além da perna, a Fábrica de Games é justamente para que a gente possa crescer potencializando mão-de-obra. Porque também, um grande investimento vem, chega aqui e não acha mão-de-obra, isso também traz para o país uma descredibilidade ou afugenta aqueles que poderiam, de fato, aportar recursos.

Então, eu acho que tem uma maturidade de construção do setor, é um passo a passo. A gente no ano passado já teve na [lei] Paulo Gustavo uma linha exclusiva para games, esse ano a gente volta muito maior do que foi no ano passado, amplificado, inclusive.

Eu acho que quando a gente olha para a Coréia do Sul, o fato deles terem chegado agora no momento de aporte mais robusto em games, vem de uma tradição de 20 anos aportando em audiovisual. A Coréia vem nesse crescente, olhando para esse mercado das narrativas que atravessam telas, atravessam fronteiras sem precisar de visto. E isto é um momento em que a gente olha e fala “opa, isso é fundamental”.

Porque, veja, para além dos filmes que foram feitos, e a gente sabe que dorama estoura, o K-pop estoura, agora tem linhas de roupas que falam sobre esse mercado, histórias que falam sobre esse mercado. A gente começa a ver que isso se desdobra numa série de outras coisas, para além, obviamente, do jogo.

A gente estava numa palestra hoje de manhã, falando exatamente sobre isso, como o jogo pode contar narrativas. Como sobre pode contar as particularidades do país, e apresentar ao mundo aquilo que eventualmente jamais se saberia. No celular, num jogo, você pode apresentar uma série de histórias próprias do Brasil, contada para as pessoas, e elas podem descobrir toda essa criatividade, e toda essa magia que o Brasil tem através de um jogo.

Já existem projetos para incentivar as pessoas a entrarem no desenvolvimento de jogos, o que o Estado pretende fazer para incentivar a entrarem nesse mercado?

Marília Marton: Olha, para além da Fábrica de Games, o estado de São Paulo vai lançar agora em outubro, um grande programa de formação profissional. Não é profissionalizante, é profissional. Ele é profissional porque a gente vai sair da capital, porque as fábricas de cultura, em grande parte, estão sustentadas aqui na capital paulista.

Mas para que a gente possa romper essa exclusividade que acaba girando em torno da capital e da grande São Paulo, dentro do programa CultSP Pro a gente também carrega a expertise de desenvolvimento de formação para o desenvolvimento de games. Então, é um momento extremamente importante para nós, em que a gente vai desenvolver essa ação de formação para além da grande São Paulo e capital.

Então, a expectativa ano que vem é que o programa, que não se chama Fábrica de Games porque ele é mais focado, a Trilha Formativa de Games também rode o estado de São Paulo todo. Porque, de fato, é um mercado que você pode estar em qualquer lugar. A gente pode tá morando bem, porque a gente sabe que São Paulo é muito legal, mas é insalubre às vezes. Muito barulho, trânsito, tudo. E você poder estar morando em uma cidade do interior, montar um estúdio no interior, em que você tenha mão-de-obra.

Porque de novo a gente volta no problema da mão-de-obra, você não vai para lá porque, se você precisar de algum técnico, você não vai achar. Então, o que o estado quer proporcionar: que as pessoas tenham essa liberdade de escolher onde elas querem estar, para que elas possam para, além do desenvolvimento de games, ter uma qualidade de vida muito melhor.

Fora que, se a gente tá fora do eixo da grande São Paulo, quem sabe a gente também descubra outras narrativas, outras histórias. Eu estive recentemente em Iguape, nem todo mundo conhece, é uma região de Mata Atlântica fechada, tem muitos indígenas, muitos quilombolas e tem muitas cavernas. Aí eu fico brincando “olha, pensa, um jogo dentro da caverna do diabo”.

Então, a possibilidade de contar outras histórias. Mão-de-obra, outras histórias, outras músicas e tudo isso é um grande foco. Até porque brasileiro é criativo, a gente tem essa formação de repertório muito forte, que é algo que games ajudam muito a construir.

Winzo e Secretaria do Estado de São Paulo na gamescom latam

A Winzo contou com um estande na gamescom latam, mostrando alguns jogos publicados por eles. A Secretaria do Estado de São Paulo também teve o seu próprio estande, recheado de atividades para o público, como um hub interativo para a demonstração de jogos, e uma experiência em realidade virtual: “A Origem de Macunaíma”, onde encontram o autor Mário de Andrade, responsável pela obra atemporal.

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